Pablo Neruda Residencia en la Tierra (1933) e Los Versos del Capitán (1952) (trad. Nuno Júdice)
O TEU RISO
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não me tires o teu riso. Não me tires a rosa, a flor de espiga que desfias, a água que de súbito jorra na tua alegria, a repentina onda de prata que em ti nasce. A minha luta é dura e regresso por vezes com os olhos cansados de terem visto a terra que não muda, mas quando o teu riso entra sobe ao céu à minha procura e abre-me todas as portas da vida. Meu amor, na hora mais obscura desfia o teu riso, e se de súbito vires que o meu sangue mancha as pedras da rua, ri, porque o teu riso será para as minha mãos como uma espada fresca. Perto do mar no outono, o teu riso deve erguer a sua cascata de espuma, e na primavera, amor, quero o teu riso como a flor que eu esperava, a flor azul, a rosa da minha pátria sonora. Ri-te da noite, do dia, da lua, ri-te das ruas curvas da ilha, ri-te deste rapaz desajeitado que te ama, mas quando abro os olhos e os fecho, quando os meus passos se forem, quando os meus passos voltarem, nega-me o pão, o ar, a luz, a primavera, mas o teu riso nunca porque sem ele morreria. |
2023-05-11
Poemas de Amor (p. 21-23)
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