Fédor Dostoievski I Grok (1866) (trad. Maria Georgina Segurado)
"(...) Era estranho: tinha tanto em que pensar, e, no entanto, deixava-me absorver pela análise dos meus sentimentos em relação a Polina. Na verdade fora-me mais fácil durante as duas semanas de ausência do que agora, no dia do meu regresso, apesar de durante a viagem ter sentido a mesma melancolia de um louco, correndo feito um possesso e vendo-a constantemente diante de mim, mesmo em sonhos. (...) E, pergunto-me agora mais uma vez: «Estarei apaixonado por ela?» e mais uma vez não saberia responder; ou melhor, respondi de novo, pela centésima vez, que a detestava. Sim, detestava-a. (...) Ela está perfeitamente consciente de tudo isto, e a ideia de eu admitir com plena certeza e clareza toda a sua inacessibilidade em relação à minha pessoa, toda a impossibilidade de realização dos meus sonhos fantásticos, essa ideia, não tenho a menor dúvida, proporciona-lhe um extraordinário prazer; senão, como poderia ela, cautelosa e astuta como é, usar de tanta intimidade comigo e franqueza comigo? Penso que até ali, a sua atitude em relação a mim se assemelha à de uma imperatriz da antiguidade, capaz de se despir diante do seu escravo, sem o considerar um homem..."
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2015-11-18
O Jogador (p.16)
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