Fédor Dostoievski I Grok (1866) (trad. Maria Georgina Segurado)
"(...) Em parte, era a afectação e a arrogância da minha parte; mas, quanto mais tempo passava, mais a minha profunda indignação se agitava e fervia dentro de mim. Mesmo que ela não tivesse por mim qualquer consideração, não devia, pensei, ter esmagado assim os meus sentimentos ou recebido com tamanho desprezo a declaração dos mesmos. Afinal, sabia que o meu amor era sincero; assentira de bom grado a que lhe falasse deles. A verdade é que tudo se precipitava de forma algo estranha. Algum tempo antes, de facto, qualquer coisa como dois meses, começara a dar-me conta da sua intenção de fazer de mim um amigo e um confidente, e, na verdade, em certa medida, bem se esforçava. Mas por algum motivo, na altura, não foi esse o rumo dos acontecimentos; ao invés, manteve-se a nossa estranha relação; por isso começara a falar-lhe daquele jeito. Mas se o meu amor lhe desagradava, por que não proibir-me terminantemente de falar dele?.
Não me proibira; por vezes induzia-me até a falar e... claro que unicamente para se divertir à minha custa. Sei ser verdade, apercebi-me perfeitamente, que muito lhe agradou, depois de me escutar e instigar ostensivamente, desconcertar-me de repente com alguma artimanha reveladora do mais profundo desprezo e falta de consideração. É lógico que sabia que eu não conseguia viver sem ela. (...)" |
2015-12-04
O Jogador (p.102-103)
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