Erasmo de Roterdão Stultitiae Laus (1509-1511) (trad. Álvaro Ribeiro)
"XXII - Dizei-me: pode amar a alguém, aquele que se aborrece de si próprio? Pode concordar com alguém, aquele que está em dissídio consigo? Pode ser agradável a alguém, aquele que para si é grave e molesto? Ninguém o poderá afirmar, a não ser que seja mais estulto do que a Estultícia. Se me excluísseis, não poderíeis suportar o próximo, e contra vós próprios sentiríeis desgosto e ódio. A Natura, não poucas vezes mais madrasta do que a mãe, influi no engenho dos mortais, sobretudo dos poucos cordatos, o descontentamento do próprio e a admiração do alheio. O que faz viciar e perecer todos os dotes, toda a elegância, toda a graça da vida. De que serve a formosura, principal dádiva dos deuses imortais, se ela não for estimada? De que serve a mocidade, se for corrompida por uma tristeza senil? (...) Que é tão estulto, como a ti próprio agradares e admirares? Mas também que farás de belo, gracioso, decoroso, se estiveres descontente contigo? (...) Tão necessário é que cada qual esteja satisfeito consigo, e que procure o aplauso em si próprio antes de o procurar nos outros."
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2016-06-20
Elogio da Loucura (p37-38)
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