Rudyard Kipling Kim (1901) (trad. Monteiro Lobato)
"- Há muito, muito tempo, quando Devadata reinava em Benares - ouçam a Jataka - um elefante capturado pelos caçadores do rei conseguiu fugir com um doloroso anel de ferro nos pés. Esforçando-se por libertar-se daquilo, atirou-se floresta a dentro, com o ódio e o frenesim no coração, pedindo a seus irmãos que o socorressem. Um a um todos os elefantes tentaram com as trombas arrancar o anel, e por fim confessaram ser coisa impossível à força dos músculos. Numa moita próxima, húmido ainda do parto, estava um elefantezinho recém-nascido, cuja mãe morrera. O elefante torturado, esquecendo a própria dor, disse: «Se eu não socorrer este pequeno, ele morrerá sob as nossas patas». E colocou-se de pé sobre a criaturazinha, defendendo-a desse modo contra as pisadelas do bando: pediu a uma virtuosa elefanta que a amamentasse e ficou o guia e o guardião do órfão. Ora os elefantes ficam adultos aos trinta e cinco anos, e durante trinta e cinco chuvas o elefante guarda o seu pupilo, sempre com aquele ferro a supliciar-lhe as carnes. Um dia, o jovem elefante notou o anel e indagou: «O que é isso?» e a resposta foi: «É a minha dor». E então o jovem elefante estendeu a tromba e quebrou o ferro, dizendo: «O prazo fixado chegou ao fim». Desse modo o virtuoso elefante, que havia esperado com paciência e praticado o bem, foi beneficiado, no tempo justo, pelo elefantezinho que ele salvara e amara - porque o elefante era Ananda e o elefante moço não era outro senão o Senhor, o próprio Senhor Buda... Assim diz a Jataka." |
2014-06-18
Kim (p.170)
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