2016-05-02

O Mundo de Sofia (p.317)

Jostein Gaarder
Sofies Verden (1995)
(trad. Catarina Belo)


"- Mas por isso eles não deviam estar tão convencidos. E sobretudo não se deviam rir, porque podem engasgar-se com esse riso.
- Quem?
- Hilde e o pai. Não é deles que estamos a falar?
- Mas porque é que eles não deviam estar convencidos?
- Porque não é um pensamento totalmente impossível eles serem também apenas consciência.
- Como é que isso é possível?
- Se era possível para Berkeley e para os românticos, também tem de ser possível para eles. Talvez o major seja um fantasma num livro que trata dele e de Hilde, mas também de nós, que somos uma pequena parte da sua vida.
- Isso seria ainda mais grave. Assim, seríamos apenas sombras de sombras.
- Mas podemos pensar que um outro autor está em algum lado e escreve um livro que trata deste major da ONU, Albert Knag que escreve um livro para a sua filha Hilde. Este livro trata de um certo Alberto Knox que começa subitamente a enviar modestas lições de filosofia a Sofia Amundsen, em Kloverveien 3.
- Acreditas nisso?
- Apenas estou a dizer que é possível. Para nós, este autor seria um Deus oculto, Sofia. Apesar de tudo o que dizemos e fazemos vir dele, porque nós somos ele, nunca poderíamos saber algo sobre ele. Estamos arrumados na caixa mais interior.
Sofia e Alberto ficaram calados muito tempo. Sofia quebrou por fim o silêncio:
- Mas se existe realmente um escritor que imagina a história sobre o pai de Hilde no Líbano exactamente como imaginou a história sobra para nós...
- Sim?
- ...nesse caso podemos pensar que ele também não se devia gabar demasiado.
- O que queres dizer com isso?
- Ele está lá, e algures no fundo da sua mente estão Hilde e eu. Mas não se pode imaginar que ele também viva numa consciência ainda mais elevada?
Alberto acenou afirmativamente com a cabeça.
- É evidente, Sofia. Também isso é possível. E se é assim, ele fez-nos ter esta conversa filosófica para indicar essa possibilidade. (...)"

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