2014-11-29

O Jogo das Contas de Vidro (p.223)

Hermann Hesse
Das Glasperlenspiel (1943)
(trad. Carlos Leite)


"(...) incarnava verdadeiramente na sua pessoa a aversão desse meio por todo o estudo histórico. (...) a história, era qualquer coisa de tão feio, de tão banal e ao mesmo tempo tão diabólico, tão ignóbil e tão fastidioso que não compreendia como pudessem interessar-se por ela. (...) A história universal era a narrativa interminável, sem espírito nem jogo dramático, da violência feita ao mais fraco pelo mais forte. E querer estabelecer uma relação entre a história verdadeira, real, a história intemporal do espírito e esta rixa estúpida e velha como o mundo dos ambiciosos em busca do poder e dos arrivistas ávidos dum lugar ao sol, ou querer explicá-la por meio desta, era verdadeiramente trair o espírito (...) A história universal era uma competição no tempo, uma corrida ao ganho, ao poder, ao tesouro; o que importava era ter bastante vigor, sorte ou baixeza para não falhar o bom momento. O acto espiritual, cultural, artístico era exactamente o contrário: era sempre uma evasão da escravatura do tempo; o homem, da lama dos seus instintos e da sua inércia, elevava-se até outro nível, até ao intemporal, até ao supratemporal, o divino, um domínio radicalmente estranho e rebelde à história. (...)"

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