2014-11-15

O Jogo das Contas de Vidro (p.52-53)

Hermann Hesse
Das Glasperlenspiel (1943)
(trad. Carlos Leite)


"(...) E este desenraizamento duma pátria até ali harmónica e amada, este arrancamento a uma forma de vida que já não era sua nem à sua medida, esta vida de viajante que se despede em nome de um chamamento, pontuada de momentos de suprema alegria e confiança irradiante em si próprio, tudo isso se tornou para ele, por fim, um grande tormento, um peso e um sofrimento quase intoleráveis, pois tudo o abandonava, sem que tivesse a certeza de que era ele quem abandonava tudo, nem que este desfalecimento e este afastamento progressivos daquele mundo que lhe era familiar e querido se deviam ao seu erro, à sua ambição, às suas pretensões, ao seu orgulho, a uma falha de fidelidade e de amor. Das dores que acompanham uma vocação verdadeira, estas são as mais amargas. Quem recebe o apelo da vocação, não recebe apenas uma dádiva e um comando, mas também uma espécie de culpa, (...)"

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