2015-06-30

Colonel Olrik & Plus de Distance

Telex
músicas do álbum Neurovision (1980-1993)

Uma sugestão de audição do meu mano mais velho.
Um grupo belga com nítidas influências dos Kraftwerk.
Mas a maior curiosidade é dedicarem uma música à personagem Olrik, o vilão das aventuras de Blake e Mortimer, e o vídeo apresenta vinhetas a parodiar essa homenagem.

14: Colonel Olrik Ha Ha Ha; 05: Plus de Distance

Obra Poética (p.118)

António Gedeão
Obra Poética [Linhas de Força] (1967-2001)

"Natureza morta

As bombas destruíram todas as casas menos uma,
as casas onde viviam os homens que não tinham cor nenhuma.

Por entre os escombros
alguns milhões de cadáveres contavam anedotas e encolhiam
[os ombros.

Quando já não havia mais homens para matar,
nem pedras por calcinar,
nem searas por destruir,
foi só então que as bombas cessaram de cair.

Sobre a mesa vermelha
uma verde maçã e uma garrafa amarela e torta.
Natureza morta.

Felizmente as bombas destruíram todas as casas menos uma,
as casas em que viviam os homens que não tinham cor nenhuma.

Aí, com perícia esmerada,
os sábios reconstituíram um corpo, tão perfeito como se fosse vivo.
A casa, essa, foi reservada
para museu e arquivo."

2015-06-29

Kizomba

Bruno Santos & Nádia Mileu

A sugestão de hoje não é pela música!
Vem a propósito de um Workshop de Kizomba em que participei este fim-de-semana (sim , eu!)...
Podem ver a fotografia do grupo aqui!
E essa aula, de conceitos básicos, foi ministrada pelo par que dança nestes vídeos, Bruno Santos e Nádia Mileu, os quais vale a pena ver dançar.

01: Improviso de Kizomba; 02: I Campeonato de Dança Mais Kizomba - Bruno Santos & Nádia Mileu (Tema Obrigatório); 03: I Campeonato de Dança Mais Kizomba - Bruno Santos & Nádia Mileu (Tema Livre);

Obra Poética (p.107-108)

António Gedeão
Obra Poética [Máquina de Fogo] (1961-2001)

"Saudades da terra

Uns olhos que me olharam com demora,
não sei se por amor se caridade,
fizeram-me pensar na morte, e na saudade
que eu sentiria se morresse agora.

E pensei que da vida não teria
nem saudade nem pena de a perder,
mas que em meus olhos mortos guardaria
certas imagens do que pude ver.

Gostei muito da luz. Gostei de vê-la
de todas as maneiras,
da luz do pirilampo à fria luz da estrela,
do fogo dos incêndios à chama das fogueiras.
Gostei muito de a ver quando cintila
na face de um cristal,
quando trespassa, em lâmina tranquila,
a poeirenta névoa de um pinhal,
quando salta, nas águas, em contorções de cobra,
desfeita em pedrarias de lapidado ceptro,
quando incide num prisma e se desdobra
nas sete cores do espectro.

Também gostei do mar. Gostei de vê-lo em fúria
quando galga lambendo o dorso dos navios,
quando afaga em blandícias de cândida luxúria
a pele morna da areia toda eriçada de calafrios.

E também gostei muito do Jardim da Estrela
com os velhos sentados nos bancos ao sol
e a mãe da pequenita a aconchegá-la no carrinho e a adormecê-la
e as meninas a correrem atrás das pombas e os meninos a jogarem
[ao futebol.

À porta do Jardim, no inverno, ao entardecer,
à hora em que as árvores começam a tomar formas estranhas,
gostei muito de ver
erguer-se a névoa azul do fumo das castanhas.

Também gostei de ver, na rua, os pares de namorados
que se julgam sózinhos no meio de toda a gente,
e se amam com os dedos aflitos, entrecruzados,
de olhos postos nos olhos, angustiadamente.

E gostei de ver as laranjas em montes, nos mercados,
e as mulheres a depenarem galinhas e a proferirem palavras
[grosseiras,
e os homens a aguentarem e a travarem os grandes camiões
[pesados,
e os gatos a miarem e a roçarem-se nas pernas das peixeiras.

Mas... saudade, saudade propriamente,
essa tenaz que aperta o coração
e deixa na garganta um travo adstringente,
essa, não.

Saudade, se a tivesse, só de Aquela
que nas flores se anunciou,
se uma saudade alguém pudesse tê-la
do que não se passou.
De Aquela que morreu antes de eu ter nascido,
ou estará por nascer - quem sabe? - ou talvez ande
nalgum atalho deste mundo grande
para lá dos confins do horizonte perdido.

Triste de quem não tem,
na hora que se esfuma,
saudades de ninguém
nem de coisa nenhuma."

2015-06-28

Obra Poética (p.104)

António Gedeão
Obra Poética [Máquina de Fogo] (1961-2001)

"Amor sem tréguas

É necessário amar,
qualquer coisa ou alguém;
o que interessa é gostar
não importa de quem.

Não importa de quem,
nem importa de quê;
o que interessa é amar
mesmo o que não se vê.

Pode ser uma mulher,
uma pedra, uma flor,
uma coisa qualquer,
seja lá o que for.

Pode até nem ser nada
que em ser se concretize,
coisa apenas pensada,
que a sonhar se precise.

Amar por claridade,
sem dever a cumprir;
uma oportunidade
para olhar e sorrir.

Ama como o homem forte
só ele o sabe e pode-o;
amar até à morte,
amar até ao ódio.

Que o ódio, infelizmente,
quando o clima é de horror,
é forma inteligente
de se morrer de amor."

2015-06-27

Inteligência vs. Esperteza

inteligência

in.te.li.gên.ci.a - [ĩtəliˈʒẽsjɐ]
nome feminino
1. conjunto de todas as funções mentais que têm por objecto o conhecimento; pensamento
2. faculdade de compreender
3. conhecimento conceptual e racional; intelecto
4. desenvolvimento mental normal ou acima da média
5. penetração de espírito; discernimento
6. pessoa que possui grandes dotes intelectuais
7. juízo; raciocínio
8. abstracção
9. acto de interpretar
10. acordo; conluio
11. habilidade
12. entidades ou conjunto de pessoas que se dedicam à recolha de informações sigilosas relativas à segurança de um Estado ou governo, ou a sectores estratégicos da sociedade; serviços secretos

inteligência artificial
área da informática cujo objectivo é a aplicação do conhecimento dos processos cognitivos humanos aos sistemas informáticos que reproduzem aqueles processos

inteligência emocional
capacidade de reconhecer e entender as próprias emoções e as dos outros, agindo de forma adequada em diferentes situações

esperteza

es.per.te.za - [(i)ʃpərˈtezɐ]
nome feminino
1. qualidade de esperto
2. acto ou dito de pessoa esperta
3. vivacidade
4. manha; finura

inteligência in Dicionário da Língua Portuguesa sem Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-06-27 08:45:00]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa-aao/inteligência
esperteza in Dicionário da Língua Portuguesa sem Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-06-27 08:45:00]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa-aao/esperteza

Obra Poética (p.97)

António Gedeão
Obra Poética [Máquina de Fogo] (1961-2001)

"Poema da auto-estrada

Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta.
Vai na brasa, de lambreta.

Leva calções de pirata,
vermelho de alizarina,
modelando a coxa fina
de impaciente nervura.
Como guache lustroso,
amarelo de indantreno,
blusinha de terileno
desfraldada na cintura.

Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa, de lambreta.

Agarrada ao companheiro
na volúpia da escapada
pincha no bando traseiro
em cada volta da estrada.
Grita de medo fingido,
que o receio não é com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pela cintura.
Vai ditosa, e bem segura.

Como um rasgão na paisagem
corta a lambreta afiada,
engole as bermas da estrada
e a rumorosa folhagem.
Urrando, estremece a terra,
bramir de rinoceronte
como um punhal que se enterra.
Tudo foge à sua volta,
o céu, as nuvens, as casas,
e com os bramidos que solta
lembra um demónio com asas.

Na confusão dos sentidos
já nem percebe, Leonor,
se o que lhe chega aos ouvidos
são ecos de amor perdidos
se os rugidos do motor.

Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa, de lambreta."

2015-06-26

De Um Tempo Ausente

Sétima Legião
De Um Tempo Ausente (1989)

O terceiro álbum dos Sétima Legião é a minha sugestão para o último dia de trabalho desta semana!
Trabalho que conta com colaborações de outros artistas portugueses em algumas das músicas, como Pedro Ayres de Magalhães, Luís Represas, Teresa Salgueiro ou Francis.

01: Santa Maria Do Mar; 02: Porto Santo; 03: Por Quem Não Esqueci; 04: Alvorada; 05: Senhora Das Rosas; 06: Caminhos De Santiago; 07: Ascensão; 08: Sem Ter Quem Amar; 09: El-Rei Afonso VI; 10: Navegar; 11: Por Tua Imensa Saudade; 12: Tango Do Exílio; 13: A Cor de Maio; 14: Se a Manhã Chegar

Obra Poética (p.96)

António Gedeão
Obra Poética [Máquina de Fogo] (1961-2001)

"Arma Secreta

Tenho uma arma secreta
ao serviço das nações.
Não tem carga nem espoleta
mas dispara em linha recta
mais longe que os foguetões.

Não é Júpiter, nem Thor,
nem Snark ou outros que tais.
É coisa muito melhor
que todo o vasto teor
dos cabos Canaverais.

A potência destinada
às rotações da turbina
não vem da nafta queimada,
nem é de água oxigenada
nem de ergóis de furalina.

Erecta, na torre erguida,
em alerta permanente,
espera o sinal de partida.
Podia chamar-se VIDA.
Chama-se AMOR, simplesmente."

2015-06-25

Hergest Ridge

Mike Oldfield
Hergest Ridge (1974)

O segundo álbum de Mike Oldfield é o que estava a ouvir no auto-rádio esta noite.

01: Hergest Ridge, Part One; 02: Hergest Ridge, Part Two


Editado em 2022.11.15: substituído o vídeo N4jeh5txfsA pelo sDx2bDrHfH0

Obra Poética (p.91)

António Gedeão
Obra Poética [Máquina de Fogo] (1961-2001)

"A um ti que eu inventei

Pensar em ti é coisa delicada.
É um diluir de tinta espessa e farta
e o passá-la em finíssima aguada
com um pincel de marta.

Um pesar grãos de nada em mínima balança,
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criança.

Um desembaraçar de linhas de costura,
um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,
um planar de gaivota como um lábio a sorrir.

Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses de vidro ou película de loiça
que apenas com o pensar te pudesse partir."

2015-06-24

Silence, Night and Dreams



Zbigniew Preisner
Silence, Night and Dreams (2007)

"Descobri" esta hoje, uma colaboração entre o compositor Zbigniew Preisner (autor, entre outras, da banda sonora de Trois Couleurs: Bleu) e a intérprete Teresa Salgueiro (ex-vocalista dos Madredeus), que aqui, para além de dar voz às músicas também escreveu a letra dos temas Perchance, To Speak, To Find, To Know, To Die e Be Faithful, Go.

01: Perchance; 02: Silence, Night and Dreams; 03: To Speak; 04: To Dream; 05: To Find; 06: To Know; 07: To Die; 08: Be Faithful, Go; 09: To Love


Obra Poética (p.89-90)

António Gedeão
Obra Poética [Máquina de Fogo] (1961-2001)

"Poema do autocarro

Quantos biliões de homens! Quantos gritos
de pânico terror!
Quantos ventres aflitos!
Quantos milhões de litros
do movediço amor!
Quantos!
Quantas revoluções na cósmica viagem!
Quantos deuses erguidos! Quantos ídolos de barro!
Quantos!
Até eu estar aqui nesta paragem
à espera do autocarro.

E aqui estou, realmente.
Aqui estou encharcado em sangue de inocente,
no sangue dos homens que matei,
no sangue dos impérios que fiz e que desfiz,
no sangue do que sei o que não sei,
no sangue do que quis e que não quis.
Sangue.
Sangue.
Sangue.
Sangue.

Amanhã, talvez nesta paragem de autocarro,
numa hora qualquer, H ou F ou G,
uns homens hã-de vir cheios de medo e sede
e me hão-de fuzilar aqui contra a parede,
e eu nem sequer perguntarei porquê.

"Mas..."

Não há mas.
Todos temos culpa, e a nossa culpa é mortal.

"Mas eu só faço o bem, eu só desejo o bem,
o bem universal,
sem distinguir ninguém."

Todos temos culpa, e a nossa culpa é mortal.
Eles virão e eu morrerei sem lhes pedir socorro
e sem lhes perguntar porque maltratam.
Eu sei porque é que morro.
Eles é que não sabem porque matam.

Eles são pedras roladas no caos,
são ecos longínquos num búzio de sons.
os homens nascem maus.
Nós é que havemos de fazê-los bons.

Procuro um rosto neste pequeno mundo do autocarro,
um rosto onde possa descansar os olhos olhando,
um rosto como um gesto suspenso
que me estivesse esperando.
Mas o rosto não existe. Existem caras,
caras triunfantes de vícios,
soberbamente ignaras
com desvergonhas dissimuladas nos interstícios.
O rosto não existe.

"Procura-o."

Não existe.

"Procura-o.
Procura-o como a garganta do emparedado
procura o ar;
como os dedos do homem afogado
buscam a tábua para se agarrar."

Não existe.

"Vês aquele par sentado além ao fundo?
Vês?
Alheio a tudo quanto vai pelo mundo,
simboliza o amor.
Podia o céu ruir e a terra abrir-se,
uma chuva de lodo e sangue arrasar tudo
que eles continuariam a sorrir-se.
Não crês no amor?"

?

"Não ouves?"

?

"Não crês no amor?"

Cala-te, estupor.

Tenho vergonha de existir.
Vergonha de aqui estar simplesmente pensando,
colaborando
sem resistir.

Disso, e do resto.
Vergonha de sorrir para quem detesto,
de responder pois é
quando não é.
Vergonha de me ofenderem,
Vergonha de me explorarem,
Vergonha de me enganarem,
de me comprarem,
de me venderem.

Homens que nunca vi anseiam por resolver o meu problema
[concreto.
Oferecem-me automóveis, frigoríficos, aparelhos de televisão.
É só estender a mão
e aceitar o prospecto.
A vida é bela. Eu é que devia ser banido,
expulso da sociedade para que a não prejudique.
Hã?
Ah! Desculpe. Estava distraído.
Um de quinze tostões. Campo de Ourique."

2015-06-23

Avatar - Banda Sonora

James Horner
Avatar (2009)

Faleceu ontem o compositor James Horner, autor de muitas bandas sonoras para filmes, entre os quais Aliens, Braveheart, Apollo 13 e Titanic, ou esta, que aqui sugiro, para o filme Avatar.

01: You Don't Dream in Cryo. ....; 02: Jake Enters His Avatar World; 03: Pure Spirits of the Forest; 04: The Bioluminescence of the Night; 05: Becoming One of "The People", Becoming One with Neytiri; 06: Climbing Up "Iknimaya – The Path to Heaven; 07: Jake's First Flight; 08: Scorched Earth; 09: Quaritch; 10: The Destruction of Hometree; 11: Shutting Down Grace's Lab; 12: Gathering All the Na'vi Clans for Battle; 13: War; 14: I See You (Theme from Avatar) (interpretada por Leona Lewis) (composta por Horner, Thaddis Harrell, Simon Franglen) Bonus: 15: Pandora; 16: Viperwolves Attack; 17: Great Leonoptryx; 18: Escape from Hellgate; 19: Healing Ceremony; 20: The Death of Quaritch



Editado em 2016.11.08: substituído o vídeo bVssxumkHI4 pelo l7Ltbmvx5VI, que inclui seis faixas bonus

Obra Poética (p.86)

António Gedeão
Obra Poética [Máquina de Fogo] (1961-2001)

"Amostra sem valor

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível;
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo."

2015-06-22

How Can You Swallow So Much Sleep

Bombay Bicycle Club
single de A Different Kind of Fix (2011)

Uma proposta diferente para começar a semana.
Um vídeo que surgiu na sequência das sugestões que o YouTube vai dando.
Uma música interessante com um vídeo em animação stopmotion...

01: How Can You Swallow So Much Sleep

Obra Poética (p.83)

António Gedeão
Obra Poética [Máquina de Fogo] (1961-2001)

"Lágrima de Preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio."

2015-06-21

Obra Poética (p.80-82)

António Gedeão
Obra Poética [Máquina de Fogo] (1961-2001)

"Dia de Natal

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros - coitadinhos - nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua
[miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus
[nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso
[antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
E como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra - louvado seja o Senhor! - o que nunca tinha pensado
[comprar.

Mas a maior felicidade é a gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus,
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas."

2015-06-20

Alegria vs. Felicidade

alegria

a.le.gri.a - [ɐləˈɡriɐ]
nome feminino
1. estado de grande satisfação, contentamento, felicidade, júbilo, que em geral se manifesta exteriormente
2. aquilo que alegra; acontecimento feliz
3. festa; divertimento
4. ver gergelim

felicidade

fe.li.ci.da.de - [fələsiˈdad(ə), fəlisiˈdad(ə)]
nome feminino
1. estado de quem é feliz; contentamento; bem-estar
2. acontecimento feliz; bom êxito
3. boa fortuna; sorte; ventura

alegria in Dicionário da Língua Portuguesa sem Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-06-20 08:45:00]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa-aao/alegria
felicidade in Dicionário da Língua Portuguesa sem Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-06-20 08:45:00]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa-aao/felicidade

Obra Poética (p.60-61)

António Gedeão
Obra Poética [Teatro do Mundo] (1958-2001)

"Cavalinho, cavalinho

Corria o meu cavalinho
quando acordei de repente.
Mas que lindo cavalinho!
Tinha a brancura do linho,
e um olho muito verdinho,
fluorescente.

Corria, corria, corria, corria,
corria e espinoteava,
galopava e relinchava
numa autêntica euforia.

Corria, corria, corria, corria,
e de repente estacava,
e novamente corria,
corria e espinoteava
numa doida correria.
E cada vez que corria,
e em cada volta que dava,
sua crina se agitava,
se espargia e sacudia
num jeito que se diria
ser assim que lhe agradava,
ter prazer no que fazia.
E o cavalinho corria,
corria sempre, corria,
na senda que rescendia
na manhã do laranjal.
O solo fofo gemia.

Brandos, os ramos teciam
acenos de ritual.
Tenros, os pomos tremiam
no compasso musical.

Sobre a garupa de neve,
abraçado ao seu pescoço,
eu era uma pena leve
soprada com alvoroço.

Se ele corria, eu corria,
se ele saltava, eu saltava,
tudo quanto ele fazia,
todas as voltas que dava,
tudo, tudo eu repetia,
na mesma doida euforia
que cansava e não cansava.

Mas que lindo cavalinho!
A sua crina macia,
loira de barbas de milho,
deixava um estendal de brilho
na senda que percorria.
Apetecia mexer-lhe,
sentir-lhe o fofo e o calor
daquela crina macia
que agitava e sacudia
como um doirado vapor.
Mas que lindo cavalinho!
Meu amor!

Não tinha sela nem brida,
nem cabeçada num freio,
nem qualquer espécie de arreio
que lhe ofendesse a nudez.
Era um ser vivo total,
num emaranhado de vida
num gozo todo animal:
crina de loiro brunida,
corpo de branco cendal,
cascos de ágata polida,
ferraduras de cristal.

Mas que lindo cavalinho!
Senti-lhe o bafo cheiroso,
o tumulto harmonioso
do trote das nédias ancas.
Chamei-lhe os mais lindos nomes:
flor de nata, lua cheia,
floco de espuma na areia,
poço de camélias brancas.
Beijei-lhe o focinho ardente,
mordisquei-lhe o corpo nu.

(Que eu sabia, intimamente,
que o cavalinho eras tu.)"

2015-06-19

Bairro do Amor

Jorge Palma
Bairro do Amor (1989)

Hoje comecei o dia com esta(s) música(s).
Um dos álbuns de música portuguesa que a mãe das minhas filhas selecionou para a mais velha ouvir, ainda pequena, ainda filha única.

01: Frágil (I); 02: A Escola; 03: Minha Senhora Da Solidão; 04: Uma Vez; 05: Eternamente Tu; 06: Dá-me Lume; 07: Só; 08: Passos Em Volta; 09: Bairro Do Amor; 10: Boletim Metereológico; 11: Frágil (II)

Obra Poética (p.57)

António Gedeão
Obra Poética [Teatro do Mundo] (1958-2001)

"Rosa branca ao peito

Teu corpinho adolescente cheira a princípio do mundo.
Ainda está por soprar a brisa que há-de agitar a tua seara.
Ainda está por romper a seara que há-de rasgar o teu solo fecundo.
Ainda está por arrotear o solo que há-de sorver a água clara.
Ainda está por ascender a nuvem que há-de chover a tua chuva.
Ainda está por arder o sol que há-de evaporar a água da tua nuvem.

Mas tudo te espera desde o princípio do mundo:
a doce brisa, a verde seara, o solo fecundo.
Tudo te espera desde o princípio de tudo:
a água clara, a fofa nuvem, o sol agudo.

Tu sabes, tu sabes tudo.
Tu és como a doce brisa, a verde seara e o solo fecundo
que sabem tudo desde o princípio do mundo.
Tu és como a água clara, a fofa nuvem e o sol agudo
que desde o princípio do mundo sabem tudo.

O teu cabelo sabe que há-de crescer
e que há-de ser louro.
As tuas lágrimas sabem que hão-de correr
nas horas de choro.
Os teus peitos sabem que hão-de estremecer
no dia do riso.
O teu rosto sabe que há-de enrubescer
quando for preciso.

Quando te sentires perdida
fecha os olhos e sorri.
Não tenhas medo da Vida
que a Vida vive por si.

Tu és como a doce brisa, a verde seara e o solo fecundo
que sabem tudo desde o princípio do mundo.
Tu és como a água clara, a fofa nuvem e o sol agudo.
A tua inocência sabe tudo."

2015-06-18

Missa Papae Francisci

Ennio Morricone
Missa Papae Francisci. Anno duecentesimo a Societate Restituta (2015)

A última entrada deste compositor aqui neste blogue foi dedicada a obras suas sem ser para cinema.
Nem de propósito, estreou no passado dia 11 de Junho, na Igreja de Jesus em Roma, uma Missa por ele composta e dedicada ao Papa Francisco, encomendada pela Companhia de Jesus para assinalar o 200.º aniversário da sua restauração.
O próprio Ennio Morricone dirigiu a orquestra Roma Sinfonietta e os coros da Accademia di Santa Cecilia e da Opera de Roma.
Seria é de esperar que, tanto mais que foi num canal dedicado a música clássica, a reprodução do som estivesse em melhores condições. Enfim, o som está baixo e "enlatado" mas ainda assim dá para ouvir e perceber as referências a essa outra obra que se debruça sobre os Jesuítas que é a banda sonora de A Missão, já aqui passada também.

01: Introitus; 02: Kyrie; 03: Gloria; 04: Alleluia; 05: Sanctus; 06: Agnus Dei; 07: Finale

Obra Poética (p.55)

António Gedeão
Obra Poética [Teatro do Mundo] (1958-2001)

"Minha aldeia

Minha aldeia é todo o mundo.
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
com gente de todo o mundo
que a todo o mundo pertence.

Bate o sol na minha aldeia
com várias inclinações.
Ângulo novo, nova ideia;
outros graus, outras razões.
Que os homens da minha aldeia
são centenas de milhões.

Os homens da minha aldeia
divergem por natureza.
O mesmo sonho os separa,
a mesma fria certeza
os afasta e desampara,
rumorejante seara
onde se odeia em beleza.

Os homens da minha aldeia
formigam raivosamente
com os pés colados ao chão.
Nessa prisão permanente
cada qual é seu irmão.
Valências de fora e dentro
ligam tudo ao mesmo centro
numa inquebrável cadeia.
Longas raízes que emergem,
todos os homens convergem
no centro da minha aldeia."

2015-06-17

No More Affairs

Tindersticks
single de Tindersticks (aka The Second Tindersticks Album) (1995)

Uma música dos Tindersticks.
Um grupo que conheci há não muito tempo.
Uma música e um video encantatórios.
Na língua original e na versão em francês.

09: No More Affairs / Plus de Liaisons

Obra Poética (p.46)

António Gedeão
Obra Poética [Teatro do Mundo] (1958-2001)

"Poema do homem só

Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.

Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros não se explicam:
arrefecem.

Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de dentro se refracta,
nenhum ser nós se transmite.

Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.

Dão-se os lábios, dão-se os braços,
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.

Mas este íntimo secreto
que no silêncio concentro,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarce,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se e desflorar-se,
é nosso, de mais ninguém."

2015-06-16

Paixão segundo São Mateus

Johann Sebastian Bach
Matthäus-Passion (Passio Domini nostri J.C. secundum Evangelistam Matthæum, BWV 244) (1727)

Considerada uma das obras primas da música ocidental, lembro-me de a ter ouvido na Antena 2 numa das viagens de regresso a casa para passar o fim-de-semana e, desde logo, querer procurar o CD para a ouvir completa...

Parte Prima: 01: Chorus I & II & Chorale: Kommt, ihr Töchter, helft mir klagen – O Lamm Gottes unschuldig; 02: Evangelist, Jesus: Da Jesus diese Rede vollendet hatte; 03: Chorale: Herzliebster Jesu, was hast du verbrochen; 04 a: Evangelist: Da versammleten sich die Hohenpriester und Schriftgelehrten; 04 b: Chorus I & II: Ja nicht auf das Fest; 04 c: Evangelist: Da nun Jesus war zu Bethanien; 04 d: Chorus I: Wozu dienet dieser Unrat?; 04 e: Evangelist, Jesus: Da das Jesus merkete, sprach er zu ihnen; 05: Recitative (alto): Du lieber Heiland du; 06: Aria (alto): Buß und Reu; 07: Evangelist, Judas: Da ging hin der Zwölfen einer mit Namen Judas Ischarioth; 08: Aria (soprano): Blute nur, du liebes Herz!; 09 a: Evangelist: Aber am ersten Tage der süßen Brot; 09 b: Chorus I: Wo willst du, daß wir dir bereiten das Osterlamm zu essen?; 09 c: Evangelist, Jesus: Er sprach: Gehet hin in die Stadt; 09 d: Evangelist: Und sie wurden sehr betrübt; 09 e: Chorus I: Herr, bin ich's?; 10: Chorale: Ich bin's, ich sollte büßen; 11: Evangelist, Jesus, Judas: Er antwortete und sprach; 12: Recitative (soprano): Wiewohl mein Herz in Tränen schwimmt; 13: Aria (soprano): Ich will dir mein Herze schenken; 14: Evangelist, Jesus: Und da sie den Lobgesang gesprochen hatten; 15: Chorale: Erkenne mich, mein Hüter; 16: Evangelist, Peter, Jesus: Petrus aber antwortete und sprach zu ihm; 17: Chorale: Ich will hier bei dir stehen; 18: Evangelist, Jesus: Da kam Jesus mit ihnen zu einem Hofe, der hieß Gethsemane; 19: Recitative (tenor) and Chorus II: O Schmerz! Hier zittert das gequälte Herz – Was ist die Ursach aller solcher Plagen; 20: Aria (tenor) and Chorus II: Ich will bei meinem Jesu wachen – So schlafen unsre Sünden ein; 21: Evangelist: Und ging hin ein wenig, fiel nieder auf sein Angesicht und betete; 22: Recitative (bass): Der Heiland fällt vor seinem Vater nieder; 23: Aria (bass): Gerne will ich mich bequemen, Kreuz und Becher anzunehmen; 24:  Evangelist, Jesus: Und er kam zu seinen Jüngern und fand sie schlafend; 25: Chorale: Was mein Gott will, das gscheh allzeit; 26: Evangelist, Jesus, Judas: Und er kam und fand sie aber schlafend; 27 a: Aria (soprano, alto) and Chorus II: So ist mein Jesus nun gefangen – Laßt ihn, haltet, bindet nicht!; 27 b: Chorus I & II: Sind Blitze, sind Donner in Wolken verschwunden?; 28: Evangelist, Jesus: Und siehe, einer aus denen, die mit Jesu waren, reckete die Hand aus; 29: Chorale: O Mensch, bewein dein Sünde groß; Parte seconda: 30: Aria (alto) and Chorus II: Ach, nun ist mein Jesus hin! – Wo ist denn dein Freund hingegangen; 31: Evangelist: Die aber Jesum gegriffen hatten, führeten ihn zu dem Hohenpriester Kaiphas; 32: Chorale: Mir hat die Welt trüglich gericht't; 33: Evangelist, Witnesses, High Priest: Und wiewohl viel falsche Zeugen herzutraten, funden sie doch keins.; 34: Recitative (tenor): Mein Jesus schweigt zu falschen Lügen stille; 35: Aria (tenor): Geduld, Geduld! Wenn mich falsche Zungen stechen; 36 a: Evangelist, High Priest, Jesus: Und der Hohenpriester antwortete; 36 b: Chorus I & II: Er ist des Todes schuldig!; 36 c: Evangelist: Da speieten sie in sein Angesicht und schlugen ihn mit Fäusten; 36 d: Chorus I & II: Weissage uns, Christe, wer ists, der dich schlug?; 37: Chorale: Wer hat dich so geschlagen; 38 a: Evangelist, Maid, Peter, Maid II: Petrus aber saß draußen im Palast; und es trat zu ihm eine Magd; 38 b: Chorus II: Wahrlich, du bist auch einer von denen; denn deine Sprache verrät dich.; 38 c: Evangelist, Peter: Da hub er an sich zu verfluchen und zu schwören; 39: Aria (alto): Erbarme dich, mein Gott, um meiner Zähren Willen!; 40: Chorale: Bin ich gleich von dir gewichen; 41 a: Evangelist, Judas: Des Morgens aber hielten alle Hohepriester und die Ältesten des Volks einen Rat; 41 b: Chorus I & II: Was gehet uns das an? Da siehe du zu!; 41 c: Evangelist, High Priests: Und er warf die Silberlinge in den Tempel; 42: Aria (bass): Gebt mir meinen Jesum wieder!; 43: Evangelist, Pilate, Jesus: Sie hielten aber einen Rat und kauften einen Töpfersacker; 44: Chorale: Befiehl du deine Wege; 45 a: Evangelist, Pilate, Pilate's wife: Auf das Fest aber hatte der Landpfleger Gewohnheit, dem Volk einen Gefangenen loszugebenChorus I & II: Barrabam!; 45 b: Chorus I & II: Laß ihn kreuzigen!; 46: Chorale: Wie wunderbarlich ist doch diese Strafe!; 47: Evangelist, Pilate: Der Landpfleger sagte; 48: Recitative (soprano): Er hat uns allen wohlgetan; 49: Aria (soprano): Aus Liebe will mein Heiland sterben; 50 a: Evangelist: Sie schrieen aber noch mehr und sprachen; 50 b: Chorus I & II: Laß ihn kreuzigen!; 50 c: Evangelist, Pilate: Da aber Pilatus sahe, daß er nichts schaffete; 50 d: Chorus I & II: Sein Blut komme über uns und unsre Kinder.; 50 e: Evangelist: Da gab er ihnen Barrabam los; 51: Recitative (alto): Erbarm es, Gott! Hier steht der Heiland angebunden.; 52: Aria (alto): Können Tränen meiner Wangen; 53 a: Evangelist: Da nahmen die Kriegsknechte des Landpflegers Jesum zu sich; 53 b: Chorus I & II: Gegrüßet seist du, Jüdenkönig!; 53 c: Evangelist: Und speieten ihn an und nahmen das Rohr und schlugen damit sein Haupt.; 54: Chorale: O Haupt, voll Blut und Wunden; 55: Evangelist: Und da sie ihn verspottet hatten, zogen sie ihm den Mantel aus; 56: Recitative (bass): Ja, freilich will in uns das Fleisch und Blut zum Kreuz gezwungen sein; 57: Aria (bass): Komm, süßes Kreuz, so will ich sagen; 58 a: Evangelist: Und da sie an die Stätte kamen mit Namen Golgatha; 58 b: Chorus I & II: Der du den Tempel Gottes zerbrichst; 58 c: Evangelist: Desgleichen auch die Hohenpriester spotteten sein; 58 d: Chorus I & II: Andern hat er geholfen und kann ihm selber nicht helfen.; 58 e: Evangelist: Desgleichen schmäheten ihn auch die Mörder, die mit ihm gekreuziget waren; 59: Recitative (alto): Ach Golgatha, unselges Golgatha!; 60: Aria (alto) and Chorus II: Sehet, Jesus hat die Hand uns zu fassen ausgespannt, kommt! – Wohin?; 61 a: Evangelist, Jesus: Und von der sechsten Stunde an war eine Finsternis über das ganze Land; 61 b: Chorus I: Der rufet dem Elias!; 61 c: Evangelist: Und bald lief einer unter ihnen, nahm einen Schwamm; 61 d: Chorus II: Halt! Laß sehen, ob Elias komme und ihm helfe.; 61 e: Evangelist: Aber Jesus schriee abermal laut und verschied.; 62: Chorale: Wenn ich einmal soll scheiden; 63 a: Evangelist: Und siehe da, der Vorhang im Tempel zerriß in zwei Stück; 63 b: Chorus I & II: Wahrlich, dieser ist Gottes Sohn gewesen.; 63 c: Evangelist: Und es waren viel Weiber da, die von ferne zusahen; 64: Recitative (bass): Am Abend, da es kühle war; 65: Aria (bass): Mache dich, mein Herze, rein; 66 a: Evangelist: Und Joseph nahm den Leib und wickelte ihn in ein rein Leinwand; 66 b: Chorus I & II: Herr, wir haben gedacht, daß dieser Verführer sprach; 66 c: Evangelist, Pilate: Pilatus sprach zu ihnen; 67: Recitative (bass, tenor, alto, soprano) and Chorus II: Nun ist der Herr zur Ruh gebracht. – Mein Jesu, gute Nacht!; 68: Chorus I & II: Wir setzen uns mit Tränen nieder

Obra Poética (p.40)

António Gedeão
Obra Poética [Movimento Perpétuo] (1956-2001)

"Vento no rosto

À hora em que as tardes descem,
noite aspergindo nos ares,
as coisas familiares
noutras formas acontecem.

As arestas emudecem.
Abrem-se as flores nos olhares.
Em perspectivas lunares
lixo e pedras resplandecem.

Silêncios, perfis de lagos,
escorrem cortinas de afagos,
malhas tecidas de engodos.

Apetece acreditar,
ter esperanças, confiar,
amar a tudo e a todos."

2015-06-15

Obra Poética (p.29)

António Gedeão
Obra Poética [Movimento Perpétuo] (1956-2001)

"Pedra filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste ou capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos duma criança."

2015-06-14

Obra Poética (p.28)

António Gedeão
Obra Poética [Movimento Perpétuo] (1956-2001)

"Tempo de poesia

Todo o tempo é de poesia.

Desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.

Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia.

Todo o tempo é de poesia.

Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas que a amar se consagram.

Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.

Todo o tempo é de poesia.

Desde a arrumação do caos
à confusão da harmonia."

2015-06-13

Constrangimento vs. Confrangimento

constrangimento

cons.tran.gi.men.to - [kõʃtrɐ̃ʒiˈmẽtu]
nome masculino
1. pressão exercida sobre alguém; coacção; coerção
2. obrigação
3. insatisfação; desagrado
4. estado de quem não se sente à vontade; acanhamento; inibição; embaraço

confrangimento

con.fran.gi.men.to - [kõfrɐ̃ʒiˈmẽtu]
nome masculino
1. acto ou efeito de confranger
2. contracção dolorosa
3. estado de quem não se sente à vontade; constrangimento; inibição; embaraço
4. tormento

constrangimento in Dicionário da Língua Portuguesa sem Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-06-13 08:45:00]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa-aao/constrangimento
confrangimento in Dicionário da Língua Portuguesa sem Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-06-13 08:45:00]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa-aao/confrangimento

Obra Poética (p.17)

António Gedeão
Obra Poética [Movimento Perpétuo] (1956-2001)

"Forma de inocência

Hei-de morrer inocente
exactamente
como nasci.
Sem nunca ter descoberto
o que há de falso ou de certo
no que vi.

Entre mim e a Evidência
paira uma névoa cinzenta.
Uma forma de inocência,
que apoquenta.

Mais que apoquenta:
enregela
como um gume
vertical.
E uma espécie de ciúme
de não poder ser igual."

2015-06-12

Alma Mater

Rodrigo Leão
Alma Mater (2000)

Volto a sugerir Rodrigo Leão...
O álbum que marcou nova inflexão no seu trabalho, com a reintrodução de letras cantadas por vozes conhecidas de outras paragens.
E vale a pena ver o primeiro vídeo, não oficial, e partilhá-lo com quem se encanta com pequenas coisas, com quem é sensível a movimentos imperceptíveis ou se deixa seduzir por gestos espontâneos.

01: Alma Mater; 02: A Casa (cantada por Adriana Calcanhoto); 03: O Encontro; 04: Imortal; 05: O Exercício; 06: Sossego; 07: Pasión (cantada por Lula Pena); 08: Orionte; 09: Dragão; 10: Vita Brevis; 11: A Tragédia; 12: Espelhos

A Vida e Opiniões de Tristram Shandy (p.460-461)

Laurence Sterne
The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gent. (1759-1761)
(trad. Manuel Portela)


"Se eu tivesse a oportunidade, como Sancho Pança, de escolher o meu reino, não seria um reino marítimo--ou um reino de escravos para fazer bom dinheiro--não, seria um reino cheio de súbditos a rir com vontade: E como as paixões mais biliosas e saturninas, ao criarem desordens no sangue e nos humores, têm tido tão má influência, pelo que vejo, tanto sobre o corpo político, como sobre o corpo natural--e como nada a não ser o hábito da virtude pode governar completamente aquelas paixões, e sujeitá-las à razão----acrescentaria aos meus votos--que Deus concedesse aos meus súbditos a graça de serem tão SÁBIOS como eram ALEGRES; e eu haveria de ser então o mais feliz monarca, e eles o povo mais feliz debaixo do céu----"

2015-06-11

The Final Cut Video EP

Pink Floyd
The Final Cut Video EP (1983)

Hoje "tropecei" neste vídeo com várias músicas do álbum The Final Cut dos Pink Floyd...
É uma curta metragem de 1983, com uma selecção de músicas do álbum, feito na sequência do filme The Wall, do qual já aqui passei a banda sonora, e inclui um dos actores daquele.

05: The Gunner's Dream; 10: The Final Cut; 11: Not Now John; 08: The Fletcher Memorial Home


A Vida e Opiniões de Tristram Shandy (p.458)

Laurence Sterne
The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gent. (1759-1761)
(trad. Manuel Portela)


"Ninguém, a não ser quem o haja sentido, pode conceber que tormento é ver-se o espírito de um homem dividido por dois projectos de igual força, ambos puxando obstinadamente em direcção contrária ao mesmo tempo: Pois, para não falar da devastação que uma consequência conhecida de antemão inevitavelmente provoca no mais delicado sistema de nervos, o qual como sabeis conduz os espíritos vitais e outros fluídos mais subtis do coração para a cabeça, e por aí fora--Não se pode dizer em que grau uma tal espécie de fricção irregular afectaria as partes mais grossas e mais sólidas, consumindo a gordura e debilitando as forças do homem de cada vez que vai atrás e vem à frente."

2015-06-10

A Vida e Opiniões de Tristram Shandy (p.442)

Laurence Sterne
The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gent. (1759-1761)
(trad. Manuel Portela)


"É curioso observar o triunfo dos acidentes triviais sobre o espírito:--Que peso incrível eles têm no formar e governar das nossas opiniões, tanto acerca dos homens como das coisas--de tal forma que ninharias, leves como o ar, são capazes de insuflar uma crença para dentro da alma,(77) e plantá-la aí tão inamovívelmente,--que as demonstrações de Euclides todas juntas, nem que fossem destinadas a abrir-lhes uma brecha, não teriam poder para derrubá-la.

(77) Cf. Otelo Acto III, Cena III, v. 322."

2015-06-09

Live at the Heineken Hall, Amsterdam

Dead Can Dance
Live at the Heineken Hall, Amsterdam (2013)

Volto a fazer minha uma sugestão do meu irmão mais velho.
Um concerto ao vivo dos Dead Can Dance, no Heineken Hall, em Amesterdão, no dia 24 de Junho de 2013.

01: Children of the Sun; 02: Agape; 03: Rakim; 04: Kiko; 05: Amnesia; 06: Sanvean; 07: Black Sun; 08: Nierika; 09: Opium; 10: The Host of Seraphim; 11: Ime Prezakias (Roza Eskenazi cover); 12: Cantara; 13: All in Good Time; Encore: 14: The Ubiquitous Mr. Lovegrove; 15: Dreams Made Flesh (This Mortal Coil cover); 16: Return of the She-King

2015-06-08

Blue Monday

New Order
Blue Monday (1983)

Esta era a que eu queria ter "postado" na segunda-feira.
Mas estou a escrever este texto amanhã, ou será que estou a publicar isto ontem?
As viagens no tempo são uma possibilidade no blogue, não só por permitir recordar músicas do passado, mas porque nos permite mudar as datas de publicação, quer por antecipação, quer por atraso...

Blue Monday: vídeo oficial (1983); versão original 12" (1983); vídeo oficial (1988); versão 12" (1988); vídeo oficial (1995); Hardfloor Remix (1995)

2015-06-07

A Vida e Opiniões de Tristram Shandy (p.433)

Laurence Sterne
The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gent. (1759-1761)
(trad. Manuel Portela)


"Ora o capítulo que me vi obrigado a arrancar era a descrição desta cavalgada, (...)
--Mas o retrato desta jornada, quando o examinei de novo, pareceu-me tão superior ao estilo e à maneira de qualquer outra coisa que eu tenha conseguido pintar neste livro, que não podia ter sido nele incluído sem rebaixar todas as outras cenas; destruindo assim o necessário contrapeso e equilibrio (seja ele bom ou mau) entre capítulo e capítulo, do qual resulta a justa proporção e harmonia do conjunto da obra. Quanto a mim ainda agora entrei no negócio e pouco sei do assunto--mas, em minha opinião, escrever um livro é como para toda a gente cantarolar uma canção--desde que estejais afinada convosco, Minha Senhora, pouco importa até onde subis ou desceis."

2015-06-06

Descanso vs. Descontracção

descanso

des.can.so - [dəʃˈkɐ̃su]
nome masculino
1. cessação do movimento ou do trabalho
2. repouso; sossego; paz
3. vagar
4. sono
5. sítio onde se descansa
6. peça das armas de fogo onde o cão descansa
7. apoio; peça em que outra se apoia ou descansa

eterno descanso
morte

descontracção

des.con.trac.ção - [dəʃkõtraˈsɐ̃w̃]
nome feminino
1. relaxamento dos músculos após uma contracção
2. descanso físico
3. relaxamento
4. à-vontade; desembaraço

descanso in Dicionário da Língua Portuguesa sem Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-06-06 08:45:00]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa-aao/descanso
descontracção in Dicionário da Língua Portuguesa sem Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-06-06 08:45:00]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa-aao/descontracção

2015-06-04

Late Night

Syd Barrett
música de The Madcap Laughs (1970)

Mais uma variação sobre uma música.
Estava eu a preparar-me para partilhar uma música dos This Mortal Coil, do álbum Blood (1991), quando reparei que se tratava de uma variação de uma música de Syd Barrett, do primeiro álbum a solo de um dos fundadores dos Pink Floyd, e por isso resolvi incluir as duas na sugestão musical de hoje.

13: Late Night
13: Late Night (voz de Caroline Crawley)