2015-06-19

Obra Poética (p.57)

António Gedeão
Obra Poética [Teatro do Mundo] (1958-2001)

"Rosa branca ao peito

Teu corpinho adolescente cheira a princípio do mundo.
Ainda está por soprar a brisa que há-de agitar a tua seara.
Ainda está por romper a seara que há-de rasgar o teu solo fecundo.
Ainda está por arrotear o solo que há-de sorver a água clara.
Ainda está por ascender a nuvem que há-de chover a tua chuva.
Ainda está por arder o sol que há-de evaporar a água da tua nuvem.

Mas tudo te espera desde o princípio do mundo:
a doce brisa, a verde seara, o solo fecundo.
Tudo te espera desde o princípio de tudo:
a água clara, a fofa nuvem, o sol agudo.

Tu sabes, tu sabes tudo.
Tu és como a doce brisa, a verde seara e o solo fecundo
que sabem tudo desde o princípio do mundo.
Tu és como a água clara, a fofa nuvem e o sol agudo
que desde o princípio do mundo sabem tudo.

O teu cabelo sabe que há-de crescer
e que há-de ser louro.
As tuas lágrimas sabem que hão-de correr
nas horas de choro.
Os teus peitos sabem que hão-de estremecer
no dia do riso.
O teu rosto sabe que há-de enrubescer
quando for preciso.

Quando te sentires perdida
fecha os olhos e sorri.
Não tenhas medo da Vida
que a Vida vive por si.

Tu és como a doce brisa, a verde seara e o solo fecundo
que sabem tudo desde o princípio do mundo.
Tu és como a água clara, a fofa nuvem e o sol agudo.
A tua inocência sabe tudo."

Sem comentários: