António Gedeão Obra Poética [Teatro do Mundo] (1958-2001)
"Rosa branca ao peito
Teu corpinho adolescente cheira a princípio do mundo. Ainda está por soprar a brisa que há-de agitar a tua seara. Ainda está por romper a seara que há-de rasgar o teu solo fecundo. Ainda está por arrotear o solo que há-de sorver a água clara. Ainda está por ascender a nuvem que há-de chover a tua chuva. Ainda está por arder o sol que há-de evaporar a água da tua nuvem. Mas tudo te espera desde o princípio do mundo: a doce brisa, a verde seara, o solo fecundo. Tudo te espera desde o princípio de tudo: a água clara, a fofa nuvem, o sol agudo. Tu sabes, tu sabes tudo. Tu és como a doce brisa, a verde seara e o solo fecundo que sabem tudo desde o princípio do mundo. Tu és como a água clara, a fofa nuvem e o sol agudo que desde o princípio do mundo sabem tudo. O teu cabelo sabe que há-de crescer e que há-de ser louro. As tuas lágrimas sabem que hão-de correr nas horas de choro. Os teus peitos sabem que hão-de estremecer no dia do riso. O teu rosto sabe que há-de enrubescer quando for preciso. Quando te sentires perdida fecha os olhos e sorri. Não tenhas medo da Vida que a Vida vive por si. Tu és como a doce brisa, a verde seara e o solo fecundo que sabem tudo desde o princípio do mundo. Tu és como a água clara, a fofa nuvem e o sol agudo. A tua inocência sabe tudo." |
2015-06-19
Obra Poética (p.57)
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