António Gedeão Obra Poética [Teatro do Mundo] (1958-2001)
"Minha aldeia
Minha aldeia é todo o mundo. Todo o mundo me pertence. Aqui me encontro e confundo com gente de todo o mundo que a todo o mundo pertence. Bate o sol na minha aldeia com várias inclinações. Ângulo novo, nova ideia; outros graus, outras razões. Que os homens da minha aldeia são centenas de milhões. Os homens da minha aldeia divergem por natureza. O mesmo sonho os separa, a mesma fria certeza os afasta e desampara, rumorejante seara onde se odeia em beleza. Os homens da minha aldeia formigam raivosamente com os pés colados ao chão. Nessa prisão permanente cada qual é seu irmão. Valências de fora e dentro ligam tudo ao mesmo centro numa inquebrável cadeia. Longas raízes que emergem, todos os homens convergem no centro da minha aldeia." |
2015-06-18
Obra Poética (p.55)
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