Hermann Hesse Das Glasperlenspiel (1943) (trad. Carlos Leite)
"E como, encandeado com as visões,
Do livro erguesse os olhos para descansar, Vi que não era ali o único visitante. Na sala estava um ancião contemplando Os livros, talvez fosse o bibliotecário Que eu via na diligência do seu trabalho, Ocupado com os livros, e assaltar-me a curiosidade De conhecer esse trabalho zeloso E que sentido tinha. Este homem velho, Assim o vi, com a mão engelhada e terna Pegou num livro, leu o que na lombada Estava escrito, sussurrou com os lábios pálidos O título - um título entusiasmante, Prometedor de preciosas horas de leitura! - Apagou-o com os dedos, ao de leve, Escreveu sorrindo um novo título, Completamente diferente, e em seguida Continuou a andar, tirando um livro aqui, Outro mais além, apagando os títulos E escrevendo outros. Confuso observei-o longamente e voltei, Já que a minha razão se recusava a entender, Ao meu livro, onde pouco antes algumas linhas Tinha lido; mas a sequência das imagens Que me encantava, já não encontrei, Perdera-se e pareceu-me afastar-se O mundo simbólico onde mal penetrara E que tratava tão ricamente do sentido do mundo; Vacilava esse mundo, corria em círculo, parecia turvar-se, E ao dissipar-se nada mais deixou de si Do que o brilho pardacento do pergaminho vazio. No ombro senti então uma mão, Ergui os olhos e vi ao meu lado O diligente velho e levantei-me. Sorrindo Ele pegou no meu livro, um arrepio percorreu-me Como um calafrio, e o seu dedo deslizou Como uma esponja por cima dele; no couro limpo Escreveu novo título, perguntas e promessas, E numa bela caligrafia, desenhando as letras, Uma a uma a sua pena deu às mais velhas perguntas Novas respostas. Depois levou consigo silenciosamente O livro e a pena." |
2014-12-17
O Jogo das Contas de Vidro (p.353-354)
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