2014-12-24

O Jogo das Contas de Vidro (p.409-410)

Hermann Hesse
Das Glasperlenspiel (1943)
(trad. Carlos Leite)


"(...) a nossa crença é diferente, totalmente diferente. Mas não é porque a nossa fé não tenha nada a fazer com as teorias dos astros e dos éons, das águas matriciais, das mães do mundo e de todos esses símbolos, que essas doutrinas constituem em si um erro, uma mentira ou um engano.
(...)
(...) não viste que paz e que harmonia ele conhecia na sabedoria das imagens e dos símbolos? Pois bem, é sinal de que nenhuma grande dor o atormenta, que está satisfeito, que o seu destino é feliz. Ora, às pessoas felizes nós nada temos a dizer. Para que um homem sinta a necessidade da redenção e da fé redentora, para que não encontre mais alegria na sabedoria e na harmonia dos seus pensamentos e assuma o grande risco de acreditar no milagre da redenção, é preciso, em primeiro lugar, que conheça a infelicidade, uma infelicidade muito grande, tem de precisar da experiência da dor e da decepção, da amargura e do desespero, tem de lhe subir à garganta o fel. (...)"

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