2015-01-25

Um, Nenhum e Cem Mil (p.56)

Luigi Pirandello
Uno, Nessuno e Centomila (1926)
(trad. Maria Jorge Vilar de Figueiredo)


"(...) A história da minha família na minha terra: nunca pensava nisso; mas essa história, para outros, estava em mim; eu era o último dessa família e tinha a sua marca em mim, no meu corpo, e sabe-se lá em quantos hábitos e modos de agir e de pensar em que nunca tinha reflectido, mas que outros reconheciam claramente em mim, na minha maneira de andar, de rir, de cumprimentar. Julgava-me um homem na vida, um homem qualquer que vivesse no dia-a-dia uma vida ociosa, no fundo, embora cheia de curiosos e inconstantes pensamentos. Não, não; para mim podia ser um qualquer mas, para os outros, não; para os outros, possuía muitas determinações decisivas, que nunca me havia atribuído nem criado e em que nunca reparara; e até a possibilidade de acreditar que era um homem qualquer, ou seja, o meu próprio ócio que julgava ser mesmo meu, aos olhos dos outros, não me pertencia: fora legado por meu pai, dependia da fortuna de meu pai, e era um ócio terrível, porque meu pai..."

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