2015-01-20

Um, Ninguém e Cem Mil (p.19-20)

Luigi Pirandello
Uno, Nessuno e Centomila (1926)
(trad. Maria Jorge Vilar de Figueiredo)


"Queria estar só de uma forma verdadeiramente insólita, nova. Ao contrário do que vocês pensam, isto é, sem mim e justamente com um estranho à minha volta.
Parece-vos já um primeiro sinal de loucura?
Talvez por não terem reflectido bem.
Não nego que a loucura pudesse já estar em mim; mas peço-vos que acreditem que esta é a única maneira de se estar verdadeiramente só.
A solidão já não está com vocês; está sempre sem vocês e só é possível com um estranho à vossa volta: lugar ou pessoa que seja, que vos ignoram totalmente, que vocês ignoram totalmente, de maneira que a vossa vontade, o vosso sentimento fiquem suspensos e perdidos numa incerteza angustiante e, cessando toda a afirmação de vocês próprios, cesse a própria intimidade da vossa consciência. A verdadeira solidão está nesse lugar que vive por si e que para vocês não tem rosto nem voz, e por isso nesse lugar vocês são o estranho."

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