2015-03-14

A Obra ao Negro (p.246)

Marguerite Yourcenar
L'Oeuvre au Noir (1968)
(trad. António Ramos Rosa, Luísa Neto Jorge e Manuel João Gomes)


"- É estranho que para nós, cristãos, sejam as pretensas desordens da carne consideradas o mal por excelência - disse Zenão, meditativo. - Não há quem castigue com nojo a raiva, a brutalidade, a selvajaria, a barbárie, a injustiça. Amanhã, ninguém se lembrará de considerar obscenas as pessoas que vierem ver-me contorcer no meio das chamas.
O cónego tapou o rosto com uma das mãos.
- Desculpai, padre - disse Zenão. - Non decet. Não tornarei a cometer a indecência de tentar mostrar as coisas como elas são."

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