Marguerite Yourcenar L'Oeuvre au Noir (1968) (trad. António Ramos Rosa, Luísa Neto Jorge e Manuel João Gomes)
"(...) aquilo que considerais mentira talvez seja uma autêntica profissão de fé contra vossa vontade. A verdade tem segredos para se insinuar nas almas que tenham deixado de lhe opor barreiras.
- O mesmo se poderá dizer da hipocrisia - observou com toda a calma o filósofo. - Não, meu caro padre! Muitas vezes menti para viver, mas começo a perder o hábito da mentira. Entre vós e nós, entre as ideias de Hiéronymus Van Palmaert, as do bispo e as vossas, por um lado, e as minhas, por outro, existem aqui e além, semelhanças, às vezes compromissos, mas nunca relação perfeita. Dá-se com elas o mesmo que com certas curvas traçadas a partir de um plano comum, que é o intelecto humano, as quais divergem de repente e depois voltam a unir-se, afastando-se de novo umas das outras, intersectando-se nas suas trajectórias ou, pelo contrário, confundindo-se com um dos seus segmentos, sem ninguém, contudo, poder saber se elas se unem ou não num ponto situado para além do nosso horizonte. Há falsidade em declará-las paralelas." |
2015-03-17
A Obra ao Negro (p.252)
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