2015-07-13

D. Quixote de la Mancha (vol.I, p.19)

Miguel de Cervantes Saavedra
D. Quixote de la Mancha (1605)
(trad. Aquilino Ribeiro)


"(...) Podes crer, mesmo sem juras, que o meu ardente desejo era que este livro, produto do entendimento, fosse o mais formoso, mais galhardo e mais discreto que imaginar-se pode. Não estava porém na minha mão infringir a ordem da natureza, segundo a qual uma coisa não gera outra senão que lhe seja semelhante. Que podia, portanto, conceber o meu estéril e mal-aparelhado engenho que não fosse a história de um génio seco, encornilhado, ougadiço, e imbuído de ideias fantásticas, jamais sonhadas, enfim tal como podia ser forjado numa cadeia onde toda a incomodidade tem assento e todo o rumor sinistro faz habitação? O lugar aprazível, o sossego rural, os céus serenos, o murmúrio das fontes e a quietude de alma contribuem por muito para que as musas mais áridas se mostrem fecundas e dêem à luz obra que encha de maravilha e jucundidade."

1 comentário:

Anónimo disse...

Acho interessante que este blogue seja a única ocorrência da palavra "ougadiço" em toda a Internet. O mesmo acontece para outras palavras neste texto...