António Gedeão Obra Poética [Novos Poemas Póstumos] (1990-2001)
"Poema de ser natural
Tranquilamente o Sol penetra no meu quarto. Mas porque não havia o Sol de penetrar no meu quarto, se o caminho está livre e nada se lhe opõe? Estranho seria que o Sol atravessasse as paredes de pedra e de cimento do meu quarto, mas se o Sol atravessasse as paredes de pedra e de cimento
[do meu quarto,
já não seria estranho,seria simplesmente natural. É assim como o melro da porteira que canta enquanto escrevo. Mas porque não havia de cantar o melro da porteira se é seu dever cantar? Cumpre o melro o seu fado, e eu cumpro o meu. Estranho seria, sim, que fosse eu a cantar, e ele, o melro, a escrever com a ponta do bico. Mas se o melro escrevesse com a ponta do bico e eu cantasse, já não seria estranho, seria simplesmente natural. Assim sou eu, o Sol, o melro, e tudo o mais. Tudo, conforme é, é natural, e para tudo isso os sábios fazem leis e os crentes pasmam da obra do Senhor. " |
2015-07-09
Obra Poética (p.191)
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