António Gedeão Obra Poética [4 Poemas da Gaveta] (1965-2001)
"Alegremente, no autocarro
As crianças tristes passam alegres no autocarro, cantando em altos berros e intrometendo-se com quem passa. Vão todas ao Posto vacinar-se de graça. A vacina é triste, as crianças são tristes, mas passam todas, alegremente, no autocarro. Os soldados tristes passam alegres no autocarro, entoando as canções que cantavam nas romarias da sua terra. Vão para o cais do embarque tomar o paquete que os levará para
[a guerra.
A guerra é triste, os soldados são tristes,mas passam todos, alegremente, no autocarro. Os operários tristes passam alegremente no autocarro, cantando e gesticulando com a garrafa de vinho na mão. Vão todos para a fábrica vigiar as máquinas e carregar num botão. A fábrica é triste, os operários são tristes, mas passam todos, alegremente, no autocarro. Os camponeses tristes passam alegres no autocarro, cantando e dando vivas ao longo do percurso. Vão todos à cidade, de fato novo, aplaudir o discurso. O discurso é triste, os camponeses são tristes, mas passam todos, alegremente, no autocarro. Alegremente, no autocarro." |
2015-07-04
Obra Poética (p.151)
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