António Gedeão Obra Poética [Novos Poemas Póstumos] (1990-2001)
"Poema de ser ou não ser
São ondas ou corpúsculos? Sim ou não? São uma ou outra coisa, ou serão ambas? São "ou" ou serão "e"? Ou tudo se passa como se? Percorrem velozmente órbitas certas as quais existem só quando as percorrem. Velozmente. Será? Ou talvez não se movam, o que depende do estado em que se encontre quem observa. Assim prosseguem rotineira marcha na paz podre do tempo. Oh! O tempo! Até que, de repente, por exigências igualmente certas, num sobressalto histérico, saltam da certa órbita e vão fazer o mesmo noutra certa tão certa como a outra. E assim prosseguem na paz podre do tempo. Eis senão quando, como pedra num charco ou estrela que deflagra, irrompem no vazio, e o vazio perturbado afunda-se e alteia-se e em esferas sucessivas, pressurosas, vão alagando o espaço primeiro o espaço próximo, depois o mais distante, e seguem sempre, sempre, avante, sempre avante, em quantas direções se lhe apresentam. Sim, ou não? Estou à janela e vejo muito ao longe a linha do horizonte. Ser ou não ser? Eis a questão." |
2015-07-10
Obra Poética (p.206)
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