2015-08-29

D. Quixote de la Mancha (vol.II, p.53)

Miguel de Cervantes Saavedra
D. Quixote de la Mancha (1605)
(trad. Aquilino Ribeiro)


"(...) se virmos uma pessoa bem vestida, com trajos caros ou pomposos e grande aparato da criadagem, somos inclinados a prestar-lhe a nossa vénia, posto que alguma hora tenha caído em baixeza de que fomos testemunha e no momento se nos represente ao espírito. Essa baixeza, seja devida a penúria ou nódoa de família, passou, passou, ninguém mais a vê. O que se vê é isso que existe, está presente. Se para mais essa pessoa a quem a fortuna safou da cepa torta, com tal baixeza por contrapeso (...) é tida à altura da prosperidade por bem-criada, liberal e polida com o próximo e não tiver embófias de ombrear com aqueles que são nobres por antiguidade, fica certa, Teresa, que não haverá fabiano que se lembre ainda do que ela foi, antes será reverenciada no que é, não falando nos invejosos que dos colmilhos desses ninguém está livre."

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