2015-08-31

D. Quixote de la Mancha (vol.II, p.59)

Miguel de Cervantes Saavedra
D. Quixote de la Mancha (1605)
(trad. Aquilino Ribeiro)


"(...) verdadeiramente só são fidalgas e ilustres aquelas famílias ou linhagens assinaladas pelo mérito, a riqueza e a gesta liberal dos seus representantes. Disse mérito, riqueza e gesta liberal, porque o grande que for vicioso será apenas um grande vicioso; o rico, que não for liberal, será apenas um avaro sem nada de seu, pois que possuir riquezas não basta. O importante é saber usar delas, não à matroca, mas com tino e inteligência. Ao cavaleiro pobre não lhe fica outro caminho para mostrar que é cavaleiro senão o do mérito. Tem de mostrar que é afável, bem-educado, cortês, acomodado e prestável. Que não seja soberbo, nem arrogante e murmurador. Mostre-se caridoso que, com dois ceitis que dá ao pobre de boa mente, competirá em liberalidade com o que, dando esmola, tilinta a moeda na bandeja, e quem o vir, exornado de tais virtudes, pois o não conheça, julgá-lo-á de boa raça, e seria absurdo que o não fosse. Louvá-lo-ão, porque por via de regra este prémio deve ser reservado às pessoas de merecimento. (...)"

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