2015-02-13

A Obra ao Negro (p.57-58)

Marguerite Yourcenar
L'Oeuvre au Noir (1968)
(trad. António Ramos Rosa, Luísa Neto Jorge e Manuel João Gomes)


"(...) A veneração que nutria pela companheira resistira à usura de uma vida quotidiana lado a lado. Voluntariamente, o ancião esquecia as imperfeições, as sombras, os defeitos visíveis, embora, à superfície da alma, para só reter, nos seres eleitos, aquilo que estes talvez fossem, no mais íntimo do seu ser, ou aquilo que aspiravam vir a ser. (...) Impressionado, desde o primeiro encontro, pelo olhar límpido de Hilzonda, nem sequer reparava no trejeito quase matreiro dos seus lábios tristes. Essa mulher magra e decrépita continuava a ser, para ele, um anjo entre os anjos."

Sem comentários: